Viagem

SÃO PETERSBURGO, A CAPITAL DOS CZARES RUSSOS

 


 

SÃO PETERSBURGO, A CAPITAL DOS CZARES RUSSOS

Por Claudia Liechavicius

Cidade russa de traços imponentes. Forte. Elegante. E, fria. Noites intermináveis e congelantes no inverno. Mas, com dias longos na época do verão – as famosas “Noites Brancas”, do romance de Dostoiévski. Situada às margens do rio Neva, São Petersburgo foi construída pelo czar Pedro I – o Grande, em 1703, justamente para ser a capital dos czares. E assim viveu glamourosa, entre canais e pontes, por mais de duzentos anos até o fim do império dos czares. Então, foi tomada por Hitler e permaneceu cercada pelos alemães por 900 dias (1941-1944). Muita gente morreu de frio e fome nesse período. Foi uma fase difícil. Mas, a cidade imperial não se rendeu. Mudou de nome algumas vezes conforme a maré política mandava: Petergrado, Leningrado, São Petersburgo. Apelido, também tem: “Veneza do Norte”- por seus canais. Hoje é a quarta maior cidade da Europa, a segunda maior da Rússia e ostenta o título merecido de Patrimônio Mundial da UNESCO.
A estátua de bronze em homenagem ao czar Pedro, o Grande foi feita em 1768, pelo escultor Etienne Maurice Falconet. Ela está apoiada em uma enorme rocha em formato de onda numa praça em frente à Catedral de Santo Isaac.

MUSEU HERMITAGE

Escolher por onde começar a desvendar a cidade é fácil. O grande museu Hermitage – um dos maiores do mundo – é sem dúvida nenhuma o melhor ponto de partida. Seu acervo tem mais de 3 milhões de peças de todas as épocas, estilos e culturas, distribuídas em 10 prédios. O coração do museu é o Palácio de Inverno. Sua construção levou oito anos para ser concluída, de 1754 a 1762. Os salões imperiais são lindíssimos. O palácio tem 1057 cômodos, 117 escadarias, 1786 portas e 1945 janelas. Esses números – nada singelos – dão uma ideia da sua suntuosidade. Após a construção dessa primeira parte do palácio, Catarina, a Grande ordenou que fosse construído o Hermitage. Esse lugar que foi concebido como área de descanso logo se tornou um museu privado que guardava as coleções de Catarina. Não custou muito para a Coleção Imperial tomar tal volume que novas alas precisaram ser construídas para abrigar seu acervo. Hoje, o museu ocupa um complexo enorme, ostenta salões espetaculares e obras fantásticas.
Praça do Palácio e Hermitage. 
Coluna de Alexandre, com 47.5 metros de altura, na Praça Hermitage
No topo, observe  a figura de um anjo de 6 metros. Ao fundo, o Arco do Triunfo em memória a batalha contra Napoleão Bonaparte.
 
 
Salões do Palácio de Inverno.
 
A Dança, de Henri Matisse.
Programe-se: O valor do ingresso é de 400 rublos. Filas são constantes. Mas, vá com calma. Não tenha pressa. Afinal, é um museu para ser degustado lentamente. Se tiver um dia inteiro disponível para ele, ainda assim não será possível ver tudo. Selecione as áreas de maior interesse, marque no mapa e se organize para agilizar o tempo.
ANDAR, ANDAR E ANDAR
Para continuar explorando a cidade a melhor opção é sair andando com um mapa “em inglês” na mão.  A ordem é andar. Taxis são raridade. Ônibus são viáveis, especialmente se você encontrar alguém que fale inglês e ajude no itinerário. Metrô não testei. A cidade é grande, mas o centro histórico pode ser percorrido a pé por quem gosta de caminhar. O rigor do inverno é um grande limitador. Procure ir nos meses mais quentes (de maio à setembro). Assim, os dias serão enormes e a temperatura agradável para circular.
A rua Nevskiy Prospekt é o melhor ponto de referência – se estende por 4,5 quilômetros. Ela corta a cidade de leste a oeste e ostenta alguns dos mais belos prédios, igrejas e pontes da cidade. Começa na Praça do Almirante, onde fica o Ministério da Marinha (ao lado do Museu Hermitage) – um prédio amarelo grandioso em formato de U, com uma torre dourada de 1704, que é a segunda mais alta da cidade (foi construído para ser forte e estaleiro), passa pela Estação Férrea e termina num monastério.
À esquerda, a esguia torre dourada do Ministério da Marinha e as árvores secas da Praça do Almirante, praticamente ao lado do Museu Hermitage.
Pertinho dali, não deixe de visitar a Catedral de Santo Isaac, um dos maiores templos do mundo. Seu interior é carregado em ouro e mármores raros. Sua fachada é repleta de colunatas e decorada com 350 imagens. Dá para subir até a cúpula da igreja e observar a cidade de cima. A vista vale a escadaria. O valor do ingresso para a igreja + subida à cúpula = 400 rublos.

Catedral de Santo Isaac.

 Interior da Catedral de Santo Isaac.

Vista de São Petersburgo a partir da cúpula da Catedral de Santo Isaac.

Retorne para a rua Nevskiy Prospect e vá até o Palácio Stroganov – logo depois do primeiro canal. O nome parece familiar? Sim, é daí mesmo que vem o famoso “estrogonofe”. O palácio foi construído na fase de ouro de São Petersburgo para o Barão Sergei Stroganov, um excêntrico, dono de minas de sal  que presava muito a boa mesa, as artes e o péssimo hábito de beber.
CURIOSIDADE: Reza a lenda que certo dia, Stroganov organizava o palácio para receber um convidado ilustre. Preparou um prato especial – escalopinhos com um molho que levava dois dias para seu preparo – sua especialidade. Tudo pronto e eis que chega o convidado, com um problema nas mãos que o impossibilitava de cortar a carne com a faca. Imediatamente, Stroganov – um belo anfitrião – providenciou para que os escalopes fossem cortados em pequenos pedacinhos e misturados ao molho. Surge, então, o famoso “estrogonofe”. O resultado foi tão bom que a receita se espalhou pelo mundo.
Hoje, o palácio é um museu com os salões abertos ao público. Tem um excelente e pomposo restaurante, onde se pode comer o legítimo Stroganov (sem ser cortado) e no sub-solo tem um apartamento, numa espécie de esconderijo, que serve à hóspedes especiais – onde antigamente era a adega do palácio e o “quarto secreto”. Muito interessante. O funcionário do restaurante que conduziu para uma visita aos aposentos secretos disse que o quarto pode ser usado como hotel. Um luxo!

O Palácio Stroganov fica na esquina do Canal Moyka. A estátua do homem domando o cavalo é boa referência para acha-lo facilmente.

 
Restaurante Russian Empire, no Palácio Stroganov.
Quarto secreto do Palácio Stroganov.
Mais à frente, andando pela Nevskiy Prospekt (quase todos os lugares de maior interesse para uma primeira viagem ficam ao longo dela ou nas suas transversais) está a imensa Catedral de Kazan. Ela foi construída em 1733 e mais tarde foram feitas novas alas e um jardim ornamentado com uma fonte. A catedral ortodoxa é um dos cartões-postais da cidade.
Catedral de Kazan.
Interior da Catedral de Kazan.
Basta atravessar a rua para você se surpreender com a maravilhosa Casa Singer – que hoje é uma das maiores livrarias russas (e dizem que do mundo). A obra do arquiteto Pavel Suzor foi edificada no final do século XIX, bem no centro de São Petersburgo para abrigar a fábrica americana de máquinas de costura. O prédio é coroado por uma cúpula espetacular com um globo de vidro. Vale a pena entrar e tomar um café tendo a vista da Catedral de Kazan à sua frente.
Casa Singer.
 
Entrando pelo Canal de Griboyedova, transversal à Nevskiy Prospect está a imperdível Igreja daRessurreição. Se por fora seus bulbos de porcelana colorida saltam aos olhos, por dentro ela é uma obra de arte. Seus murais sobre o Velho e o Novo Testamento são de tirar o fôlego. A arquitetura é inspirada na Catedral de São Basílio, de Moscou. Difícil dizer qual a mais bonita.
DICA: Nos arredores da igreja tem uma feira de produtos locais e artesanato com preços mais convidativos do que nas lojas.
Igreja da Ressurreição.
Interior da Igreja da Ressurreição.
Ainda no Canal de Griboyedova, no entanto do outro lado da Nevskiy Prospekt vá até a Ponte do Banco. É uma das mais bonitas de São Petersburgo. Foi construída em 1790 por Giacomo Qurenghi. É suspensa e tem quatro leões alados.
Ponte do Banco.
De volta à Nevskiy Prospekt duas outras igrejas chamam atenção. Afinal, todas as crenças convivem harmoniosamente lado a lado na cidade. A Igreja de Catarina que é católica e data de 1760 e a Igreja da Armênia, ortodoxa, de 1771. Nessa rua também tem uma igreja luterana, a Igreja de São Pedro.
 Igreja da Armênia.
Igreja de Santa Catarina.
Outro prédio lindo é o da Casa Yeliseyev. Ali funciona uma delicatessen charmosíssima. Ideal tanto para uma pausa rápida para um chá ou café como para almoço. No andar debaixo, fica o restaurante.
Casa Yeliseyev.
A Casa Yeliseyev tem a frente virada para a Nevskiy Prospekt e a lateral para essa charmosa rua com uma fonte super moderna. A água escorre ao redor da bola de mármore.
 
Restaurante da Casa Yeliseyev.
 
Bem em frente está o Teatro de Alexandrine. Ele tem capacidade para 1400 pessoas. A praça à sua frente é decorada com uma estátua em homenagem a Catarina, a Grande. Catarina emerge de um grupo de oito figuras em bronze.

Teatro de Alexandrine e Monumento a Catarina, a Grande.

Atravessando a Ponte Anichkov está o Palácio Beloselsky-Belozersky construído em 1840 para servir como residência ao grão-ducado. A seguir fica o Hotel Corinthia. Enorme, bem localizado e com bons quartos especialmente na ala recém reformada. Continuando pela Nevskiy Prospekt se chega à Estação Férrea, num ponto bem central para quem for de Moscou para são Petersburgo de trem. Ao todo a rua tem pouco mais de quatro quilômetros repletos de belas fachadas. É uma caminhada linda, que passa sem você sentir e termina num monastério.
Palácio Beloselsky-Belozersky.

Em resumo, ao longo da Nevskiy Prospekt, vale a pena prestar atenção:
  • Museu Hermitage
  • Catedral de Santo Isaac e Praça do Almirantado (com o prédio do Ministério da Marinha)
  • Palácio Stroganoc
  • Catedral de Kazan
  • Casa Singer (hoje uma livraria)
  • Igreja da Ressurreição
  • Casa Yeliseyev
  • Igreja de Catarina e Igreja da Armênia
  • Teatro Alexandrine e Monumento a Catarina, a Grande
  • Ponte Anitchkov, Ponte do Banco e demais pontes sobre os canais
  • Palácio Beloselsky-Belozersky
BAIRROS MAIS DISTANTES
 

Depois de explorar essa região mais central vale a pena dedicar um dia para desbravar os arredores. A ilha da Fortaleza de Pedro e Paulo é interessante por simbolizar o ponto de nascimento da cidade. O primeiro forte de São Petersburgo foi fundado ali, em 1703. A seguir foi feita a Catedral de Pedro e Paulo, onde estão enterrados alguns czares russos. E, logo surgiu o centro administrativo e comercial. Confesso que esperava mais do que encontrei. Mas, valeu a longa caminhada, especialmente pelo restaurante que encontrei nos arredores indicado por uma moradora local, o Na-Zdorovie (Bolshoi Prospekt of Petrogradskaya, 13 – telefone: +7 812 2324039).

Ilha da Fortaleza de Pedro e Paulo.
Catedral de Pedro e Paulo.
Escultura de Pedro, o Grande, feita por Mikhail Chemiakin, no pátio interno do Forte de Pedro e Paulo.
Restaurante Na-Zdorovie de comida russa. Excelente e de ambiente descontraído.

Fora da ilha, mas perto da Fortaleza fica o Museu da História Política da Rússia, o zoológico, o Estádio Petrovsky e a única mesquita da cidade com suas cúpulas azuis enormes que podem ser vistas de longe.

Dali. o ideal é voltar caminhando pela Ilha de Vasilyevsky onde ficam: o Museu da Marinha, o Museu de Literatura e a Academia de Ciências. 

 

Duas colunas vermelhas ficam em frente ao Museu da Marinha.

INDICAÇÃO DE HOTÉIS

CORINTHIA. Hotel 5 estrelas muito bem localizado na Nevskiy Prospekt, a rua que concentra os  prédios mais interessantes e bonitos de São Petersburgo. Os quartos tem decoração charmosa (especialmente os que foram recém redecorados), banheiro moderno e ótimo café da manhã. Fica na Nevsky Prospect 57. Telefone + 7 812 380 2001 – www.corinthia.com
Recepção do Hotel Corinthia.
Outros bons hotéis da cidade são o WAstoria e o recém inaugurado Four Seasons. Esses três são muito próximos um do outro e ficam nos arredores da Catedral de Santo Isaac.

BONS RESTAURANTES

Russian Empire. Pomposo e elegante. Esse é o restaurante do Palácio Stroganov, onde foi criado o “estrogonofe”. Recomendo. Nevsky Prospect 17. Telefone: +7 812 571 2409
Russian Empire.
Receptoria. Restaurante boutique gourmet. Cozinha contemporânea com toque italiano e excelentes frutos do mar. Fica quase em frente a Catedral de Santo Isaac, na Admiralteisky Pr. 10. Telefone: +7 812 3127967.
Na Zdorovie. Restaurante de comida russa, com decoração descontraída, ótimo para o almoço. Bolshoy Prospect 13. Telefone: +7 812 232 4039. www.concord-catering.ru
Na Zdorovie.

Casa Yeliseyev. Delicatessen em cima e restaurante embaixo. Muito charmoso. Perfeito tanto para um café como para uma refeição mais farta. Nevskiy Prospect, 56. Telefone: +7 812 4566666

Casa Yeliseyev.


VISTO PARA ENTRADA DE BRASILEIROS: não é necessário visto para quem pretende ficar até 90 dias no país, apenas passaporte.
IDIOMA: russo. Pouca gente fala inglês. Mas, nos hotéis é falado com bastante frequência. Os mapas são em inglês e cardápios dos restaurantes também.
FUSO HORÁRIO: 7 horas a frente do horário de Brasília.
MOEDA: rublo, 1 real vale 17 rublos.
NOS ARREDORES DA CIDADE: Se tiver tempo visite Peterhof, o Palácio de Verão construído por Pedro, o Grande. Não consegui visitar porque estava com as fontes desligadas devido ao frio. Isso me deixa com aquela vontade de voltar para conferir o que faltou na primeira visita. Ótima desculpa. É sempre bom reservar surpresas para o retorno!
A cidade é encantadora. Quando visitar Moscou não deixe de ir até lá. Afinal, é tão pertinho. Dá para ir de avião em menos de uma hora ou de trem em quatro horas (e a estação de trem é no centro da cidade). Se for de avião o aeroporto é distante 17 quilômetros do centro e têm taxis no aeroporto, não é preciso contratar transfer previamente. Se estiver na Finlândia, na Estônia, na Letônia ou na Lituânia também vale a pena dar uma esticada de uns três dias para conhecer a cidade.
São Petersburgo vale a viagem!

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